sábado, 15 de março de 2014

Irrepetibilidade da Experiência Religiosa


Jean-François Millet - Angelus Domini

A "repetição" remete para a duplicação de um acto. Se tal possa ser possível mecanicamente (ainda que o mesmo seja discutível), o mesmo não acontecerá no domínio da experiência religiosa, onde o Homem não sendo propriamente comparável a uma "mecânica de relógio suíço", sempre que pratica um acto renova-se. É claramente esta qualidade que o faz ser Homem! Remeter a experiência religiosa para a repetição seria afirmá-la numa "plasticidade" no sentido de falta de naturalidade. A Irrepetibilidade de um acto enquanto experiência religiosa garante o aniquilação do vazio, ao mesmo tempo que certifica o Homem como ser Único, Ser de Novidade!
(no âmbito da disciplina Filosofia da Religião - Experiência Religiosa)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Existências

Que encontro eu quando olho para mim? Não pode existir nenhum ponto de partida mais interessante que o próprio Ser para iniciar toda e qualquer procura na busca de um "logos". Nada existe aqui de egocêntrico, longe disso. É partindo da minha própria existência, do simples facto de existir que me revejo como um Ser Único irrepetível.

Como poderá qualquer Homem querer compreender a sua envolvente, não fazendo um exercício de se compreender a si próprio? Ou poderei mesmo dizer que é na existência, "como situação fundamental do Homem" que me revejo como parte de um Todo e logicamente mais próximo do meu semelhante?!
Faz falta (no meu entender), este exercício à própria Humanidade que teima por uma perspectiva individualista, essa sim egocêntrica, desprezando o que de mais belo a sua própria existência pode oferecer!

É profundo o pensamento do filósofo Gabriel Marcel acerca deste tema e termino com uma reflexão da Professora Maria de Lourdes Sirgado Ganho acerca desta mesma introspecção existencial:
"Aqui dá-se o encontrar do eu e do tu, constituindo um nós, esboço de uma pequena sociedade, expressão da união do eu e do tu. Esta experiência unitiva produz um sentimento de plenitude interior, em que o eu e o tu não se anulam, mas completam-se".


sábado, 11 de janeiro de 2014

Racionalidades

Tenho a ideia de pertencer a um grupo de pessoas, ou sociedade, que apoia a sua segurança na chamada Racionalidade. Facilmente tranquilizamos quando fazemos comparações ou analogias com sociedades do passado, sejam elas mais ou menos primitivas, e facilmente admitimos que a nossa forma de pensar dita Racional, nos dá a segurança para tantas explicações. O pensamento racional não pode ser confundivel com o "pensamento", é apenas uma entre outras formas com os seus sucessos e fracassos. Podemos mesmo afirmar que esse pensamento racional quando puramente "mecânico" aliado a uma tecnologia a qual depende actualmente da lógica da razão, é responsável por todo um processo de devastação ambiental criando para o próprio Homem um espaço que não o respeita. Haverá aqui alguma Racionalidade?
O Homem será porventura racional quando perceber que como Ser, é participante num projecto de passagem, de participação, onde está intimimamente ligado ao seu próximo, seja esse próximo Homem ou Natureza. O Homem será porventura racional quando se compreender como ligação ao seu semelhante. Eu nunca serei apenas só eu, mas parte de um todo que deverei respeitar.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

As nossas (In) Certezas


Embora a Natureza não me tenha dotado de grandes certezas, a verdade é que as invejo, ou melhor, até porque inveja é coisa feia, melhor será afirmar o quanto admiro as pessoas com grandes convicções, que não vacilam quando questionadas sobre determinados temas.

Admirar não quer dizer que acredite nelas!

Até porque a sociedade atual não deixa margem para pessoas como eu. As grandes personagens que nos servem de modelos ou referência, sejam elas políticos, religiosos ou até meros opinantes televisivos (personagens em voga nos tempos que correm), são pessoas com os seus pés bem assentes no chão, com opiniões bem fundadas e das quais proliferam palavras assentes em certezas. Pelo menos é essa a imagem que deixam transparecer. Na realidade não posso sequer duvidar delas nem das suas certezas. Certamente a Natureza distribuiu de forma aleatória essas certezas uma vez que, como afirmei logo no inicio, a mim praticamente me dotou de dúvidas.

Também em parece certo que a maior parte dos dotados da certeza, se escondem em bonitas máscaras, a quais lhe conferem uma coisa muito agradável chamada “Segurança”. Quem não gosta de a ter?

Tenho necessidade de separar neste momento dois grandes campos:

1.     Pessoas com demasiadas certezas, ou melhor de grandes convicções, as quais tenho necessariamente de catalogar como pouco flexíveis. Passo a explicar, uma pessoa que defende uma posição sem pestanejar não consegue ver os outros prismas da mesma realidade, que existem, quer essa pessoa acredite ou não. Nada mais me irrita numa pessoa com determinada posição política quando apenas consegue ver como credível a sua posição. Para mim são pessoas de facto determinadas, mas ao mesmo tempo de um “fanatismo” que muitas vezes roça a falta de sensibilidade.
2.     Pessoas com demasiadas dúvidas. Pessoas que não conseguem criar uma linha de pensamento coerente, porque acreditam que um facto ou realidade pode ser visto de várias perspectivas, todas elas dignas de posição.

Bem sei em que campo me situo, e para onde a sociedade me empurra. Mas a verdade é que tenho tantas razões para acreditar em determinadas posições como tenho para as duvidar. Incoerência Pura.
Como pode alguém ter tanta certeza sobre algo, quando existem outras pessoas com ideias opostas e que julgam também ter a razão! Para mim apenas uma resposta: A certeza não existe! Apenas poderão existir pessoas com mais capacidade ou menos de expor os seus argumentos. Mas se a certeza não existe, em que pilares está o Mundo assente? Toda uma sociedade moderna “racional” com todas as suas certezas assentes em areia?
Da mesma forma que uma simples bomba num ponto cirúrgico pode levantar o caos numa cidade ou país, da mesma forma que uma simples veia do cérebro ao rebentar pode instalar a loucura, também a certeza pode por impensáveis razões ser destituída da sua própria natureza.

Bem sei que ao afirmar que a certeza não existe, muitos me podem acusar de ter já pelo menos uma certeza! É só uma questão de argumentação a qual desvalorizo neste preciso momento.

Com estas poucas palavras não procuro defender o Caos. Acredito, que não acredito em pessoas com “visões bem fundadas”, porque as suas bases poderão hoje ou amanhã ser postas em causa! Pelos menos é essa a lição que a História nos ensina. As poucas certezas que possamos ter serão validas apenas e apenas só, para um determinado conjunto de pressupostos. Aqui talvez se possam encontrar certezas! Mesmo assim a certeza será sempre algo de relativo e não de definitivo.

Termino com um pequeno exemplo histórico:
Durante cerca de 2000 anos, a comunidade cientifica não questionou a geometria de Euclides. Com o aparecimento de outras geometrias não euclidianas "mais recentemente", o referido axioma foi questionado! Por outras palavras durante centenas de anos o Homem afirmou com a sua (in)certeza que duas rectas paralelas jamais se poderiam cruzar. Homens como Lobachevky, János Bolyai, Bernhard Riemann, David Hilbert, Carl Friedrich Gauss no inicio do século XIX viriam contrariar o principio básico do axioma de Euclides, assentando novas geometrias em novos axiomas que aceitam, entre outras coisas que duas rectas paralelas se podem encontrar! (Tal facto deu inicio a uma crise nos fundamentos da Matemática onde se questionou a consistência e legitimidade desta ciência).

Tanto o sistema axiomático euclidiano como o não euclidiano são válidos no seu contexto! Tal só pode dar consistência a minha ideia de não existência de certezas absolutas e sim de verdades relativas!   













domingo, 3 de janeiro de 2010

História Universal da Música - Roland de Candé


Muito raros são os músicos que, seguindo o exemplo de Janacek e de Bartók, forjaram uma linguagem musical nova, partindo da análise metódica das formas melódicas, dos ritmos, das escalas do folclore nacional e do seu próprio espírito. Privadas da sua instrumentação ou da sua emissão vocal característica, obrigadas a submeterem-se aos modelos rítmicos da música "culta" e à sua escala temperada, envolvidas por uma harmonia que lhes é estranha, as melodias populares, com o rosto pintado e endomingadas, são utilizadas como marca de autenticidade. A fertilidade deste folclorismo elementar é limitada porque opõe uma resistência à evolução dos estilos e das técnicas de composição. Por não terem tomado consciência disso, as escolas nacionais condenaram-se a um academismo fatal: depois de Bartók, os maiores compositores serão cosmopolitas, salvo muito raras excepções (inspiração russa de Prokofiev, francesa de Poulenc, inglesa de Britten, grega de Xenakis, espanhola de Ohana e brasileira de Heitor Villa Lobos).

O compositor Heitor Villa Lobos deixou-nos um total de 1500 obras, entre elas destacam-se: A Descoberta do Brasil, 4 Suites para coros e orquestra, em que justapõe cantos índios e música da liturgia católica, 5 Óperas, 15 Bailados, composições religiosas (entre as quais se conta a grande Missa de São Sebastião) 9 Bachianas Brasileiras, e 16 Chôros, 11 Sinfonias, poemas sinfónicos, 10 quartetos de cordas e 5 Prelúdios para Guitarra.
Os Prelúdios foram compostos em 1940 e são sem dúvida uma obra prima do século XX para Guitarra a Solo.
O Prelúdio n.1 que humildemente interpreto, deve-se a um trabalho longo pessoal e se algum mérito tem, deve-se também ao meu Mestre da Guitarra, Professor Roberto Carlos Baptista. Aqui fica o meu obrigado amigo!