sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

As nossas (In) Certezas


Embora a Natureza não me tenha dotado de grandes certezas, a verdade é que as invejo, ou melhor, até porque inveja é coisa feia, melhor será afirmar o quanto admiro as pessoas com grandes convicções, que não vacilam quando questionadas sobre determinados temas.

Admirar não quer dizer que acredite nelas!

Até porque a sociedade atual não deixa margem para pessoas como eu. As grandes personagens que nos servem de modelos ou referência, sejam elas políticos, religiosos ou até meros opinantes televisivos (personagens em voga nos tempos que correm), são pessoas com os seus pés bem assentes no chão, com opiniões bem fundadas e das quais proliferam palavras assentes em certezas. Pelo menos é essa a imagem que deixam transparecer. Na realidade não posso sequer duvidar delas nem das suas certezas. Certamente a Natureza distribuiu de forma aleatória essas certezas uma vez que, como afirmei logo no inicio, a mim praticamente me dotou de dúvidas.

Também em parece certo que a maior parte dos dotados da certeza, se escondem em bonitas máscaras, a quais lhe conferem uma coisa muito agradável chamada “Segurança”. Quem não gosta de a ter?

Tenho necessidade de separar neste momento dois grandes campos:

1.     Pessoas com demasiadas certezas, ou melhor de grandes convicções, as quais tenho necessariamente de catalogar como pouco flexíveis. Passo a explicar, uma pessoa que defende uma posição sem pestanejar não consegue ver os outros prismas da mesma realidade, que existem, quer essa pessoa acredite ou não. Nada mais me irrita numa pessoa com determinada posição política quando apenas consegue ver como credível a sua posição. Para mim são pessoas de facto determinadas, mas ao mesmo tempo de um “fanatismo” que muitas vezes roça a falta de sensibilidade.
2.     Pessoas com demasiadas dúvidas. Pessoas que não conseguem criar uma linha de pensamento coerente, porque acreditam que um facto ou realidade pode ser visto de várias perspectivas, todas elas dignas de posição.

Bem sei em que campo me situo, e para onde a sociedade me empurra. Mas a verdade é que tenho tantas razões para acreditar em determinadas posições como tenho para as duvidar. Incoerência Pura.
Como pode alguém ter tanta certeza sobre algo, quando existem outras pessoas com ideias opostas e que julgam também ter a razão! Para mim apenas uma resposta: A certeza não existe! Apenas poderão existir pessoas com mais capacidade ou menos de expor os seus argumentos. Mas se a certeza não existe, em que pilares está o Mundo assente? Toda uma sociedade moderna “racional” com todas as suas certezas assentes em areia?
Da mesma forma que uma simples bomba num ponto cirúrgico pode levantar o caos numa cidade ou país, da mesma forma que uma simples veia do cérebro ao rebentar pode instalar a loucura, também a certeza pode por impensáveis razões ser destituída da sua própria natureza.

Bem sei que ao afirmar que a certeza não existe, muitos me podem acusar de ter já pelo menos uma certeza! É só uma questão de argumentação a qual desvalorizo neste preciso momento.

Com estas poucas palavras não procuro defender o Caos. Acredito, que não acredito em pessoas com “visões bem fundadas”, porque as suas bases poderão hoje ou amanhã ser postas em causa! Pelos menos é essa a lição que a História nos ensina. As poucas certezas que possamos ter serão validas apenas e apenas só, para um determinado conjunto de pressupostos. Aqui talvez se possam encontrar certezas! Mesmo assim a certeza será sempre algo de relativo e não de definitivo.

Termino com um pequeno exemplo histórico:
Durante cerca de 2000 anos, a comunidade cientifica não questionou a geometria de Euclides. Com o aparecimento de outras geometrias não euclidianas "mais recentemente", o referido axioma foi questionado! Por outras palavras durante centenas de anos o Homem afirmou com a sua (in)certeza que duas rectas paralelas jamais se poderiam cruzar. Homens como Lobachevky, János Bolyai, Bernhard Riemann, David Hilbert, Carl Friedrich Gauss no inicio do século XIX viriam contrariar o principio básico do axioma de Euclides, assentando novas geometrias em novos axiomas que aceitam, entre outras coisas que duas rectas paralelas se podem encontrar! (Tal facto deu inicio a uma crise nos fundamentos da Matemática onde se questionou a consistência e legitimidade desta ciência).

Tanto o sistema axiomático euclidiano como o não euclidiano são válidos no seu contexto! Tal só pode dar consistência a minha ideia de não existência de certezas absolutas e sim de verdades relativas!   













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